segunda-feira, 16 de outubro de 2017

"ENSAIO" PARA RÁBULA REVISTEIRA

Nota previa: Os responsáveis por esta pequena rábula, pretendem apenas homenagear figuras emblemáticas da nossa terra, e dar a conhecer os tempos em que reinava uma salutar harmonia entre as pessoas.
 NOVO “ENSAIO” PARA UM QUADRO DE TEATRO DE REVISTA – (Pelo Hélder Salgado)
DESTA VEZ VERSANDO FIGURAS INESQUECIVEIS DA NOSSA TERRA
Personagens:
Mata-Pintos:
Figura emblemática do Alandroal, foi o que com propriedade se pode chamar de um “bom-vivant”- caracterizava-se pela sua baixa estatura. Era possuidor de uma saudável “malandrice “que se baseada em inofensivas mentiras. Fora do tempo em que se dedicava à caça, na qual era um exímio praticante e que constituía o seu principal sustento, a sua alimentação era constituída pelos produtos que a natureza selvagem lhe proporcionava (cogumelos, espargos, alabaças, etc.). Já no final da sua vida e quando da colocação das passadeiras para peões na Praça, o seu divertimento era andar de cá para lá e de lá para cá, só para ter o prazer de obrigar os condutores a parar.
Pimenta: Fazia jus ao ditado popular “Homem pequeno saco de veneno”. De baixa estatura, não perdia uma oportunidade de envenenar , qualquer conversa, desde que da mesma resultasse apimentar ,ou distorcer o diálogo, para seu belo prazer e diversão. Possui uma pequena taberna ao alto da Praça, cujo principal cliente era ele próprio. Tocava caixa na Banda e conta-se que numa noite em que a Banda pernoitou durante a Festa de S. Brás dos Matos, aproveitou a noite para fardar o Santo (também de pequena estatura) de músico da Banda, o que lhe valeu um valente dissabor ministrado pelos paroquianos que não acharam qualquer graça à ousadia. 
Zé Trinta: No tempo em que a água não chegava às residências, por não haver distribuição canalizada, era a mesma fornecida porta a porta pelos chamados aguadeiros (negocio também explorado pelos meus familiares maternos: avô e tios), e também pelo Zé Trinta. Alem desse ofício, outras profissões exerceu, tais como pregoeiro (era ele que dava conhecimento, percorrendo as ruas da vila, apregoando num comprido funil, espectáculos, perdidos e achados, ou qualquer acontecimento digno de registo), foi ainda moço de fretes, e outros pequenos serviços. Gostava de “emborcar” o seu copito, e nunca negava um convite para qualquer paródia. Deixou numerosa descendência e se me é permitido abro aqui um parentese para recordar o meu sempre amigo Sousa.
Blaró: Homem de sete ofícios, cuja característica principal era a sua acentuada pronúncia roufenha. Amigo do seu amigo e sempre pronto para acudir a qualquer emergência. Exímio caiador e pintor de exteriores, não dispensava após o trabalho o habitual convívio na taberna. Novo parentese para recordar mais um amigo, o Zé Vicente, seu filho.
QUESQUERES: Manobrador de máquinas. Era ele o responsável por acender e apagar as luzes da via pública. Prestava os seus serviços na velha Moagem do Garcia (presentemente Cooperativa Agrícola), que alem de moer os grãos de trigo, também fornecia a eletricidade para toda a Vila. Foi dos primeiros a possuir carta de condução no Alandroal. Excelente conversador sempre pronto a meter uma piada no meio da conversa. Dom que transmitiu aos seus filhos, os nossos estimados amigos Manuel e Tói. Fora do seu responsável serviço também a confraternização com os amigos era ponto de honra,

O mata Pintos
Figura franzina de pequena corpulência, já um pouco curvada. Está vestido com fato de caça, jaqueta e calças camufladas de grandes bolsos.
Boné verde com pena espetada. Espingarda a tiracolo e cartucheira à cintura e assim entra em cena, Depois pousa a espingarda.
Senta-se numa mesa na taberna do taberneiro Pimenta, com o Zé Trinta. e manda vir dois copos de vinho, um com gasosa, outro sem gasosa e nada de  petisco. O Mata Pintos levava uma perdiz tostada.
O Pimenta serve vinho.
- Ora qui estão os dois copinhos, um com gasosa e outro só com vinho.
O Zé Trinta vai deitar a mão ao copo que só tem vinho, e leva um sopapo na mão.
- Tira daí a mão, rapaz, bebe o da gasosa, que gaseado já tu estás.
Zé Trinta, sem se desmanchar, mas fisgado no petisco.
- E por lavar o sopapo, da perdiz vou encher o papo.
Entra o Blaró.
- Olha que prendas aqui estão e eu com o estomago em aflição.
Senta-se à mesa, sem pedir licença e manda vir um copo de vinho
- Gosto mais de perdiz do que torresmo e quem vai pagar é o mesmo.
Zé Trinta aflito.
- O mesmo? O mesmo eu não sou, com o negócio da água teso sempre estou.
O Mata Pintos, referindo-se ao Blaró.
- Trago a perdiz, pago o vinho e o pão, e ainda tenho que matar a fome a este mandrião…
O Blaró surpreendido com o fato do Mata Pintos.
- Mas agora reparo eu, meu grande forreta, assim vestido pareces um caçador lisboeta.
O Mata Pintos
- Obrigado pelas piadas, de pessoas como tu tenho-os eu às carradas.
O Zé Trinta, com a cabeça de lado e um olho meio fechado.
- Mas não ganham ao Quesqueres, que as inventa a pontapés.
O Mata Pintos empertigando-se, levanta-se meio zangado. O Pimenta aproxima-se com ar interrogativo e aguarda.
- Ouçam esta que vou contar, que decerto lhes vai agradar.
Parou de falar e olhou para os presentes que o rodeavam, e continuou.
- Escutem com atenção esta minha aflição. Fui caçar com o Borrão lá para os lados do Aguilhão, e com a espingarda no chão, como agora está aqui, aparece-me um touro que mais parecia um leão, e sabem lá o que eu fiz.
Pequena pausa.
Caguei-me.
Todos ao mesmo tempo disseram:
- Pudera com uma fera daquelas à frente.
Mata Pintos de cabeça baixa e com ar entristecido:
- Não foi lá, foi aqui,
Acaba a cena e corre o pano.

Idéia e texto: Hélder Salgado
Almada, 14-10-2017.
Ilustração e introdução das personagens: Francisco Tátá
  

4 comentários:

Anónimo disse...



OBS.

Se bem percebi a narrativa,

O Zé Trinta era um Agitador,

O Pimenta era um Provocador,

O Quesqueres era um Comunicador

O Blaró era um Servidor,

e O Mata Pintos era um borrado Franco- Atirador

Todos, porém,com um assento especial na vida e cenas entretidas da Vila?

Será assim?


Saudações

ANB

Manel Augusto disse...

ANB !!! Creio que tens razão, não estás longe da verdade...As figuras aí relatadas e expressas, foram de facto bastante actuantes no cotidiano da nossa Vila,assim como nas nossas vidas, já que um foi meu PAI(Quesques) e outro meu TIO (Pimenta)...Tomara eu chegar a ter a notoriedade que ELES tiveram,por tanto, lá onde estiverem que tudo lhes corra da melhor feição...Que por cá, também faço por isso...
Aquele abraço,
Manel Augusto

Anónimo disse...


É com este recordar que se aquece a Alma e se adoça o Outono da Vida !...

Que passe ao Palco !...

Anónimo disse...

Gostei!