quinta-feira, 21 de setembro de 2017

VASCULHAR O PASSADO - Augusto Mesquita

          O Parque de Exposições Mercados e Feiras foi inaugurado há 20 anos
Tudo leva a crer que as feiras medievais de Montemor-o-Novo surgiram antes de 15 de Março de 1203, pois o Foral  concedido por D. Sancho I naquela data, impõe 1 soldo ao mouro que vender no mercado.
            Segundo Banha de Andrade, não existem documentos que comprovem a existência de feiras em Montemor-o-Novo nos séculos XII, XIII e XIV, pois apenas existem registos da existência de feiras na nossa terra, no século XV, mais propriamente em 1442. No Livro da Vereação, se determina em 5 de Julho desse ano, que as vendedeiras “ao dia da feira venham armar suas tendas no Alpendre”.
            A altitude a que se encontra o Castelo, fez com que a população procurasse a proximidade com a estrada real, que passava no sopé do monte, provocando um fenómeno de abandono do recinto fechado em favor da actual localização, não obstante D. Manuel em 1508 ter concedido grandes privilégios aos moradores do Castelo, para impedir o seu abandono.
                                                                                O Rossio
Os nossos antepassados escolheram o Rossio das Portas do Sol para a realização de mercados e feiras. No reinado de D. João II e por conseguinte, ainda no século XV, já contava nada mais nada menos com três feiras (Maio, Nova e a da Luz), ambas com a duração de três dias. De todas, a Feira da Luz ou de Setembro é a mais importante. Veio-lhe a primeira designação pelo facto da feira se realizar junto à antiga capelinha de N.ª S.ª da Luz, que deu lugar ao Convento das Beatas de N.ª S.ª da Luz, inaugurado em 10 de Julho de 1585.
            Alem de albergar numerosas tendas de quinquilharia, de mantas alentejanas de Reguengos, de chapelaria, de sola, de louça, de obras de palma do Algarve, de correeiros, de albardeiros, de ourives, de fotógrafos à lá minuta, e de comes e bebes, onde não faltava a sardinha assada e os pimentos, esta feira era completada com a transacção de gado.
            Os vendedores da “banha da cobra”, e de “cobertores”, eram uma presença assídua nas feiras. Tinham a magia de juntar à sua volta um público ansioso por conhecer os produtos que iam estar à sua disposição.
            Os visitantes podiam ainda, divertir-se nos carrosséis, nos carrinhos de choque, no poço da morte, nos matraquilhos, nas barracas de tiro e nos circos. Na Feira da Luz realizada em 1945 foram montados nada mais, nada menos do que três circos: “Mariano”, “Luftan” e “Cardinal”.
            A ocasião era aproveitada por saltimbancos e outros artistas de rua, que procuravam a generosidade da população que afluía a esses eventos. Os aguadeiros e os homens das quadras eram também presenças assíduas nas feiras. A violência e actividades marginais eram também comuns: malfeitores, prostitutas, ladrões e mendigos afluíam às feiras para burlar os mais desprevenidos, criar desordens e pedir esmolas.
            No decorrer da Feira da Luz os montemorenses ausentes, aproveitavam a ocasião para se reunirem na terra natal, e desta forma matarem saudades da família, dos amigos, de lugares, e da gastronomia.


                                                                         Parque Urbano
Com a construção da Escola Secundária na década de 70, o Rossio ficou sem possibilidades de albergar as feiras anuais, mais concretamente a de Setembro. Por tal facto, as feiras foram forçadas a atravessar a Avenida Gago Coutinho, para ocuparem o espaço onde hoje se encontra o aprazível Parque Urbano. Para que a memória não se apague, ao campo de jogos pelado construído no local, quando da remodelação do Estádio 1.º de Maio em 1985, foi atribuído o nome de “Campo da Feira”.
            Com a Revolução dos Cravos surgiu a Festa das Colheitas que foi integrada na Feira da Luz. Os pequenos e médios agricultores e as UCPs, vendiam fruta, cebolas, batatas, feijão, grão, tomates, pimentos, e outros produtos da sua própria produção. Era hábito, o visitante, comprar produtos para todo o ano.
                                                                 Parque de Exposições
Duas décadas depois da mudança para a Courela da Pedreira, a Feira da Luz resolveu casar com a Expomor, e por tal motivo, mudou novamente de habitação e foi estrear a sua nova casa, novinha em folha – o Parque de Exposições Mercados e Feiras. Este casamento foi fundamental para o desenvolvimento de Montemor-o-Novo, pois a Feira da Luz/Expomor passou de uma vulgar feira, para um dos mais importantes certames do Alentejo, que trás até nós, milhares de visitantes.
            De 5 a 8 de Setembro de 1997, houve festa rija, conforme se indica:
            Sexta-feira, dia 5  - 21H00 - Inauguração da Feira da Luz 97 - Fanfarra dos Bombeiros - Banda da Sociedade Carlista. 22H00 - Espectáculo de inauguração do novo recinto da Feira. Palco Central - João Afonso (que substituiu por motivos de doença, a artista contractada, Dulce Pontes). 24H00 - Jazz  -  Étnica  -  Fusão. Auditório da Feira“Ficções” – Dudas (guitarra), Jorge Reis (sax), Banda (tabulas), Alexandre Frazão (bateria), Yuri Daniel (contrabaixo).
            Sábado, dia 6 - 10H00 - Animação pelas Bandas Filarmónicas - Banda “Simão da Veiga” Lavre – Banda Filarmónica de Cabrela. 15H00 – Campo de Equitação – Hipismo 4.º Concurso Nacional de Saltos D. 16H00 - Torneio de Malha. 17H00 - Estádio 1º de Maio - 1ª Jornada do Campeonato Nacional da II Divisão B – Zona Sul - Grupo União Sport – Casa Pia 22H00 – Palco Central - Espectáculo de Folclore - Rancho Folclórico de Tardariz (S. Pedro da Cova – Gondomar) - Grupo de Jotas de Oropesa e Pastores de Parrillas (Espanha) - Rancho Etnográfico de Montemor-o-Novo. 24H00 – Palco Central – Fados - Artistas Alentejanos - Rosarinho Antas - Joaquina Ruivo - João Brasa - José da Câmara.
            Domingo, dia 7 - 09H00 - Passeio Cicloturismo - Organização do Grupo de Cicloturismo de Montemor-o-Novo. 10H00 – Hipismo - 4º Concurso Nacional de Saltos D (continuação). 17H00 -  Corrida de Touros. 21H30 - Espectáculo Musical - Palco Central - Whisky Trail - La Macina - Sara Tavares & Shout. 24H00 - No Auditório da Feira – Concerto - “Rituais Brasileiros e Villalobos” - Vera Barbosa (Brasil).
            Segunda-feira, dia 8 - 15H30 - Piscinas Municipais - Festival de Natação. 19H00 - Exibição de desportos radicais, com campeões nacionais. 22H00 – Palco Central - Espectáculo de encerramento da Feira da Luz - General D – Sitiados. 24H00 - Fogo de Artifício.
                                                                        O Pavilhão
  O Pavilhão, com a área é de 1 325 m2 foi palco das seguintes Exposições:   Exposição de Fotografia “Terra” de Sebastião Salgado - Exposição “20 anos de Poder Local” da Associação de Municípios do Distrito de Évora - Diaporama “Montemor-o-Novo 1974 – 1997” da CMMN - Exposição “Feira da Luz: Outras Feiras Outras Épocas”. Esta exposição, de uma forma sucinta, recordou o passado da Feira não deixando de lançar um breve olhar para o futuro, do qual este novo Parque é já parte. Os objectos, as imagens e as palavras servem de suporte às recordações e relembram uma tradição que ainda hoje se mantém.
                                                     Os primeiros inquilinos do espaço
Os 40 módulos de 3x3 m para exposições diversas acolheram as seguintes entidades:
            Giragril, Representações agro-pecuárias, Ldª,  Assembleia de Deus, Sasaki Internacional (2 módulos), Sociedade Columbófila Montemorense, CNE  -  Agrupamento 894, Decoral (2 módulos), Grupo União Sport, Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Novo, O Bercinho / Galeria Prestígio, Partido Socialista, Intervinhos de Joaquim Alves Pinelas, Grupo de Cicloturismo de Montemor-o-Novo, Doces Regionais, Associação Protectora do Abrigo dos Velhos Trabalhadores, Movimento Democrático de Mulheres, Folha de Montemor, Coligação Democrática Unitária, Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, Coral de S. Domingos, Marca, Associação de Desenvolvimento Local, Associação de Artesãos de Montemor-o-Novo – A Ciranda (3 módulos), Região de Turismo de Évora (2 módulos), Contorno, Associação Juvenil, Rancho Folclórico Fazendeiros de Montemor-o-Novo, Rancho Folclórico Etnográfico de Montemor-o-Novo, Cercimor – Centro de Apoio Ocupacional  (2 módulos), Câmara Municipal de Évora (2 módulos), Artesãos do Fundão, Escola em Movimento – Associação de Pais, Artesãos da Marinha Grande, Festival Sete Sóis Sete Luas, Rádio Nova Antena.
            Expositores ao ar livre: Venda de carros e máquinas agrícolas (25).
            Da Feira tradicional estiveram presentes vendedores dos seguintes ramos:
            Artesanato, Artigos de desporto, Bares, Calçado, Candeeiros eléctricos, Cassetes, Estúdio de fotografias, Estores, Ferragens e ferramentas, Frutas e hortaliças, Frutos secos, Farturas, Jogos diversos, Louças, Latoaria, Mercearias, Malas e couros, Ourives, Plantas, Pão com chouriço, Produtos eléctricos, Pipocas, Queijos, Quinquilharias, Quadros decorativos, Cobertores, Sofás, Toldos, Torrão, Vestuário, Bolos, Restaurantes (5),  Bares (3).
            Divertimentos: Carrossel infantil (3), Canguru, Quazar, Pista de automóveis, Carrossel adulto.
            Produtos agrícolas: A Liga dos Pequenos e Médios Agricultores fez-se representar por 13 associados.
            Bar Central: Como habitualmente, o Bar Central foi explorado pelos Serviços Sociais dos Trabalhadores do Município de Montemor-o-Novo.
            A autarquia pôs à disposição dos interessados transporte para o novo espaço, primeiro através de comboios turísticos, e pouco depois, aumentou a oferta com autocarros panorâmicos, ambos com utilização gratuita.
            Em 1998 e de acordo com o projecto elaborado pelo Engenheiro António Abreu, a Câmara  Municipal  mediante  concurso  público,  adjudicou  à  Firma Socitoldos, por 18 750 800$00 a cobertura para área de ampliação exterior, e por 19 897 800$00 a cobertura do palco.
            Este melhoramento, além de aumentar a área coberta do espaço, e de remediar uma lacuna existente no projecto inicial, veio embelezar o PEMF.
            Em 2007, a Feira da Luz passou a ter a duração de seis dias.

Setembro/2017

Augusto Mesquita

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