segunda-feira, 18 de setembro de 2017

MEMÓRIAS DE INFÂNCIA - Chico Manel

                                               BARRACAS DE TIRO

Quando da leitura do último “Vasculhar o Passado”, do nosso amigo A. Mesquita, que este mês se debruça sobre o local onde se realiza presentemente a tradicional Feira da Luz: o Parque de Exposições Mercados e Feiras, e que brevemente aqui será postado, recorda-nos determinadas incidências passadas em feiras passadas.
A dado passo escreve o Autor:
 «A violência e actividades marginais eram também comuns: malfeitores, prostitutas, ladrões e mendigos afluíam às feiras para burlar os mais desprevenidos, criar desordens e pedir esmolas.”
 Este parágrafo trouxe-nos à memória as tradicionais «Barracas de Tiro», ainda hoje visíveis, mas em moldes diferentes, em muitas feiras e festas que se realizam por este País fora.
As barracas de tiro faziam parte imprescindível quer da Feira de S. Bento, quer da Festa de Setembro e muitas vezes prolongavam a sua estadia por mais algum tempo, quando não lhes dava para aparecerem mesmo fora de ocasiões festivas.
Se presentemente as mesmas hoje são geridas por pequenos empresários pertencentes à mesma família e se tornaram numa actividade de grande seriedade, e continuam a manter as mesmas diversões (jogos) do passado, (o tiro com pressão de ar, as latas que se tentam alvejar e derrubar), já na sua estrutura diferem das de antigamente pela supressão de um pequeno anexo, pomposamente chamado de quarto, e pelo atendimento no carregar das espingardas, na altura efectuado por simpáticas donzelas, que não se limitavam a carregar as armas, mas se o freguês estivesse pelos ajustes a descarregar-lhe “o aparelho”.
Numa altura de grandes carências monetárias, onde nem todos tinham a possibilidade de se deslocarem à Rua do Torrinha ou Manuel de Oliveira, em Évora, punha-se em prática o… se não vai Maomé… vem a Montanha!
Na festa de Setembro, na altura realizada nos Arquizes, tal negócio funcionava fora dos olhares dos passeantes pelo arraial, e tal como os jogos de azar, eram desviados para o canto que dava acesso à Travessa das Pedras no cruzamento com a Rua do Rôdo, enquanto na Feira de S. Bento se instalava por detrás da Igreja com vista para o Alcaláte.
Foi precisamente durante uma Feira de S. Bento, andava eu ainda na Escola Primária, que já pelo lusco-fusco, alguém me desafiou para ir espreitar a tal barraca de tiro, prometendo-me ir ver o que nunca tinha visto. Claro que fui. Ora como a “parede” do quarto era de pano, com o gasómetro acesso a visibilidade do que se passava no interior era total.
Só que, tal como eu via o interior também os que se encontravam lá dentro me viam a mim. Ao fim e ao cabo fui o que com propriedade se chama um “empata…” Coisa que me custou bem cara, pois não me livrei de levar umas valentes “orelhadas”, quando o "empatado" me encontrou mais tarde.
Chico Manel
Setembro 2017



1 comentário:

Helder Salgado disse...

Sou assumidamente um homem de memórias, mas dessas.... bom uma noite foi forçado a vir para casa descalço e no pico do pé esquerdo, por causa duma bolha de sangue pisado, que fiz por me ter descalçado,devido a uma espreitadela.