segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

VASCULHAR O PASSADO

      Uma vez por mês Augusto Mesquita recorda-nos pessoas, monumentos, tradições usos e costumes de                                                                             outros tempos

                    Barragem dos Minutos foi inaugurada há 15 anos 

As barragens foram, desde o início da história da Humanidade, fundamentais ao desenvolvimento dos países. A sua construção deveu-se sobretudo à escassez de água no período seco, e à consequente necessidade de armazenamento da água da chuva. Estas represas, feitas com madeira, terra, pedra ou betão, servem actualmente para reter água para fins domésticos, industriais e de rega, regularização de um rio, navegação, ou ainda, à produção de energia eléctrica.
            Em Dezembro de 1945 os Ministro das Obras Públicas Augusto Cancela de Abreu em colaboração com o Ministério da Economia dirigido por Clotário Supico Pinto publicaram um conjunto de elementos sobre o Plano de Valorização e Rega do Alentejo.
            Desse estudo contavam todas as obras que numa primeira apreciação, se anteviam como factíveis e nela se incluía, numa primeira e ainda vaga apreciação, a obra a realizar nas linhas de água que atravessam a Herdade dos Minutos.                                                                                                 Esta obra de hidráulica, foi dimensionada muito aquém das suas actuais possibilidades e suscitou algumas divergências por parte das entidades que sobre ela se debruçaram, sendo de admitir que um voto ao tempo desfavorável por parte do Conselho Superior de Obras Públicas tenha contribuído para a preterir   em matéria de realização a curto prazo.                                                                                                                           
Quase duas décadas depois, em 23 de Agosto de 1964 o Semanário Regionalista “O Montemorense” colocou na primeira página a seguinte notícia: Tudo leva a crer que vai começar em breve a construção da Barragem dos Minutos, por alturas da Amoreirinha, a uns 6 quilómetros desta vila de Montemor. O Município requereu também aos Serviços Hidráulicos a construção do “Espelho de Água” abaixo da Ponte de Évora, em ligação e dependência com a citada Barragem. Seria uma espécie de praia fácil, prática e ao alcance da população montemorense de todas as condições sociais, bem como dos turistas.                                                                                                                   Por deliberação de 3 de Novembro de 1966 a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo solicitou ao Ministro das Obras Públicas a construção da Barragem, e o Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo logo após a sua fundação em 18 de Julho de 1967, incluía a Barragem dos Minutos no quadro das suas preocupações, tendo reunido com o Director Geral dos Serviços Hidráulicos e com os seus principais colaboradores.                                                                                          Estas tentativas, tanto do Município como do GAM, não resultaram, e as entidades montemorenses acomodaram-se.
            Após a “Revolução dos Cravos” a Vila Notável cresceu rapidamente, e esse crescimento obrigou os responsáveis autárquicos à abertura de furos artesianos, uma vez que no período do verão as restrições no abastecimento de água eram frequentes. Em 1981, na área do Almansor e dos Cavaleiros abriram-se 3 furos, conseguindo-se mais 24 000 litros/hora. No mesmo ano, através da Amoreira da Torre, foram abertos nesta herdade 3 furos, que fornecem 60 000 litros/hora. Estes novos contributos vieram atenuar a falta do precioso líquido.
            Porque a solução definitiva passa pela água de superfície, por iniciativa do município, em 30 de Outubro de 1992 realizou-se no Convento de S. João de Deus, um Encontro sobre a Barragem dos Minutos.                                                                                        
            Em 18 de Outubro de 1994 o Sr. Presidente da Câmara Municipal, Dr. Carlos Pinto de Sá, participou a convite do Instituto da Água, numa reunião nas suas instalações. Foi dado conhecimento que em 1995 o I. A. vai proceder à actualização do projecto da Barragem bem como ao estudo do impacto ambiental.                                                                                                                        
            Onze meses depois da reunião realizada no I. A., e com o objectivo de avivar a memória dos responsáveis, a Câmara Municipal distribuiu na Festa das Colheitas/Feira da Luz de 1995 e na Avenida Gago Coutinho, garrafas de água vazias com o seguinte rótulo: “Sem a Barragem dos Minutos, esta é a água que temos”, (guardo-a religiosamente).
            Nos governos de António Guterres, o nosso conterrâneo Luís Capoulas Santos foi Secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural de 1995 a 1998, ano em que passou a Ministro da Agricultura. A presença do nosso concidadão no Ministério da Agricultura serviu de tónico para o recomeço da luta pela Barragem dos Minutos.
            Realizaram-se vários encontros relacionados com a construção da Barragem dos Minutos, e foi criada a Comissão Concelhia para a Defesa da Construção da Barragem, composta por um representante da Câmara Municipal, outro da Assembleia Municipal, das Juntas de Freguesia, e ainda, da COPRAPEC, da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Montemor-o-Novo, da Firma José Joaquim Cornacho & Filhos, Ld.ª e da UCP Cravo Vermelho.                                                                  Em 26 de Fevereiro de 1996, o nosso conterrâneo Capoulas Santos, efectuou o Despacho que a seguir se transcreve:                                                                                                                Despacho n.º 29/96 do Secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural              
1. Nos termos dos Decretos – Leis n.º.s 269/82 de 10/7 e 47/94 de 22/2, nos aproveitamentos hidráulicos de fins múltiplos, são da responsabilidade do Ministério do Ambiente, as estruturas hidráulicas primárias (barragem, canal condutor geral e estações de tratamento) e do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, designadamente a rede de rega, as redes de enxugo e drenagem, a adaptação ao regadio, a defesa e conservação do solo, a rede viária agrícola e a electrificação rural.                                                                                                                                     2. Apenas em Novembro de 1995, já na vigência do XIII Governo Constitucional, foi lançado o concurso para o estudo da reavaliação do Projecto Hidro-Agrícola dos Minutos tendo em conta a utilização da água para abastecimento público não previsto no projecto inicial concluído em 1977. Este estudo de reavaliação determinará as disponibilidades hídricas para fins agrícolas a partir das quais será possível quantificar e delimitar a água a irrigar e elaborar o projecto da rede secundária de rega.                                                                                                                                               3. Nestes termos e estando consignadas no Programa de Apoio à Modernização Agrícola e Florestal (PAMAF) as dotações financeiras para execução das obras da responsabilidade do Ministério da Agricultura, determino ao Instituto de Estruturas Agrárias e Desenvolvimento Rural que adopte desde já as diligências necessárias para que o referido projecto seja elaborado logo que obtidos os dados técnicos a fornecer pelo Ministério do Ambiente nos termos do número anterior do presente despacho.
Lisboa, 26 de Fevereiro de 1996
O Secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural
Luís Capoulas Santos
            No dia 28 de Julho de 1999 realizou-se no Convento de S. Domingos a abertura de propostas para adjudicação da Barragem dos Minutos. A obra foi adjudicada ao agrupamento Engil/Adriano pelo preço de 2 388 388,00 €, o qual se comprometeu concluir a obra no prazo de 28 meses.                                                                                                                       A empreitada para a realização de trabalhos arqueológicos na Albufeira da Barragem dos Minutos  -  medida de minimização de impacte ambiental sobre o património arqueológico, esteve a cargo do Consórcio Tomás de Oliveira e Era – Arqueologia, Conservação e Gestão de Património, pela importância de 914 527,10 €.                                                                                                                       A empreitada de construção das redes - Programa Agro / Medida 4, Gestão e Infra-estruturas Hidroagrícolas de Rega, Viária e Drenagem do Aproveitamento Hidroagrícola dos Minutos, importou em 23 357 209,13 €, sendo comparticipada em 50% pelos fundos europeus.          Finalmente, a empreitada de construção de entroncamento da E.N. 4 com acesso à barragem, esteve a cargo das Construções António Joaquim Maurício, Ld.ª. O seu custo importou em 204 691,64 € e foi financiada pelos fundos comunitários em 50%. A obra teve início em 19 de Maio de 2005, sendo o prazo de execução da mesma, 90 dias.                                                                          
            Na reunião camarária de 4 de Agosto de 1999, o então Vereador do PSD Capitão José Claudino Tregeira referiu-se a uma velha aspiração de todos os montemorenses que ao longo das últimas décadas se empenharam para que o investimento da Barragem dos Minutos se concretizasse, decisão que finalmente veio a ser anunciada pelo senhor Ministro da Agricultura, prevendo-se que as obras se venham a iniciar brevemente.                                                                                                     A cerimónia de abertura das propostas que se realizou no passado dia 28 de Julho, constituiu nas palavras do senhor Vereador Tregeira, um marco histórico de grande significado para o concelho, pelo que propôs o registo em acta, com homenagem e agradecimento a todos quanto, ao longo dos últimos quarenta e dois anos, trabalharam e lutaram para a construção da barragem, incluindo acções desenvolvidas pela Câmara Municipal e uma saudação especial ao montemorense, Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Dr. Luís Capoulas Santos, também ele um lutador por essa legítima aspiração de Montemor e a quem cabe o mérito da concretização desse sonho colectivo, que constitui o maior investimento até hoje realizado na região.  Deliberação: A proposta de homenagem e agradecimento apresentada pelo senhor Vereador José Tregeira foi aprovada por unanimidade.                                                                                             Entre onze de Fevereiro e dezassete de Março de 1999 decorreu a consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental sobre a construção da Barragem dos Minutos.                                             No dia 10 de Novembro de 2000 no Auditório da Biblioteca Municipal realizou-se o Encontro “Aproveitamento da Barragem dos Minutos: Que soluções?”.
            O Programa do Encontro contemplou os seguintes painéis:                                                 Organização e Estrutura Agrícola; Regadio, Produções Associadas, Emprego.       Abastecimento Público – Uma necessidade de curto prazo.                                    Ordenamento e Desenvolvimento de actividades lúdicas.                                                                   
  Finalmente, trinta e oito anos depois de “O Montemorense” ter anunciado a possível realização da obra da construção da barragem, a 24 de Fevereiro de 2002, foi inaugurada pelo Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas, o Montemorense Dr. Luís Capoulas Santos, acompanhado pelo Presidente Carlos Pinto de Sá (Montemor está primeiro), a Barragem dos Minutos.                                                                                                                                            
            A construção da Barragem dos Minutos iniciou-se em 24 de Janeiro de 2000 e ficou concluída em Outubro de 2002, mas devido à necessidade de realizar um conjunto de observações previstas no plano do primeiro enchimento, as comportas só foram encerradas no dia 24 de Janeiro de 2003. O acto contou com a presença do Presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica e do Director Regional de Agricultura do Alentejo.
            A Barragem dos Minutos é uma barragem de aterro. Possui uma altura de 36 metros acima da fundação e um comprimento de coroamento de 1.239 metros. A albufeira da barragem apresenta uma superfície inundável ao NPA (Nível Pleno de Armazenamento) de 5,3 Km2.                        
            Esta importante obra, projectada pela COBA – Consultores de Engenharia Ambiente (em cujo projecto trabalhou o nosso conterrâneo Engenheiro Vicente Rodrigues), forma o maior espelho de água do concelho. O volume da barragem é de 1 219 000 m3.
            Este importante empreendimento representou o maior investimento jamais realizado no nosso concelho, ultrapassando os 29,5 milhões de euros.
           
Augusto Mesquita
Fevereiro/2017

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