Terça, 24 Maio 2016
O ano letivo na
Universidade está a terminar. Começam os exames. Alguns terão três longos meses
e meio de férias pela frente.
São os que fizeram as frequências, seguindo a avaliação contínua, vendo-se
recompensados por um esforço que distribuíram ao longo do semestre. Outros lá
tropeçaram aqui ou ali e terão que tentar, mais uma vez, esta ou aquela matéria
menos estudada, entendida, apreciada, pior transmitida. Porque já se sabe, dos
dois lados da sala, frente a frente, estão sempre seres humanos. Falíveis,
instáveis, por muito competentes e esforçados que se revelem ou os declarem. Há
que melhorar, sempre, e a Universidade, como o Mundo, tem esse percurso como
destino a alcançar.
Na área das
Humanidades e das Ciências Sociais estamos à espera de encontrar quem se ocupe
e preocupe mais com metafísicas do que com físicas, mais com comportamentos,
formas e métodos de interagir entre indivíduos, entre si e em grupo mais ou
menos alargado. É aqui que podemos tentar iludir e ultrapassar o que é físico,
químico, comandado por reações quase predestinadas, e usar o pensamento para
além do técnico que, vamos lá ver, sempre é o que nos salva a vida e nos dá, em
princípio e se tudo correr pelo melhor, o conforto material da evolução
civilizacional. E até nessas áreas haverá momentos em que as certezas que se
conquistaram contêm em si histórias que parecem do domínio da ficção e que, por
isso mesmo talvez, contribuem para a evolução e para o progresso da Humanidade.
O saber, o conhecimento, a técnica, tudo nas mãos de seres humanos a
investigar, a ensinar, a aplicar.
O que é também
interessante na instituição Universidade, que é uma Escola onde cada um, e cada
vez mais felizmente, deveriam poder encontrar a totalidade, a universalidade,
reflectida nos percursos possíveis do conhecimento, e fazer nela o seu caminho
aprendendo, onde já ninguém se não o próprio se encarregará da sua Educação, é
precisamente a sua semelhança com o resto do Mundo. Mas é lá também onde se
espera que estejam os que, pela primeira vez, modelam adultos, sem a
intervenção protectora de pais ou tutores, servindo de exemplo numa outra fase
de maturação aos que por lá passam e continuam depois o seu percurso pela vida,
desejavelmente ganhando uma autonomia libertadora. É assim, pelo menos em
teoria.
Tenho para mim que
numa sociedade em que as dinâmicas políticas e sistémicas permitem uma muito
maior mobilidade social, com o acesso a instituições que antes só serviam
elites, o quão mais trabalhoso e responsabilizador é para quem nelas trabalha:
colaborar ensinando, e portanto dando o exemplo, a serem bons usuários dessas
instituições. Enriquecendo-as até, com a sua participação que deve ser sempre
bem vinda quando é esse o seu fim.
O Vergílio Ferreira
que há 70 anos estava a terminar o seu primeiro ano letivo neste espaço que
agora é Universidade e então foi Liceu, apesar da figura enigmática e do feitio
a adivinhar-se mais para o taciturno, inspirou e motivou muitos dos seus
alunos. Ele já tinha percebido que para além de ensinar com rigor esta ou
aquela matéria, necessária, útil, trabalhosa, a que daremos muito valor num
contributo determinado para a sociedade, outras capacidades aparentemente
inatas ao ser humano tinham muito para ser trabalhadas por quem e para quem
ensinar é mais do que isso. E onde o termo e o conceito de Cultura devem
ultrapassar as paredes de uma sala de aulas numa Universidade e…entrar nela,
aperfeiçoando-se e aperfeiçoando-a. Ele escreveu: «A cultura é o modo avançado
de se estar no Mundo, ou seja a capacidade de se dialogar com ele.» E isto
também se deve aprender lá dentro. E praticar.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
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