Segunda, 23 Maio 2016
Na passada semana PSD,
CDS e PCP chumbaram o Projecto de Lei do Bloco de Esquerda que visava proibir a
aplicação de produtos contendo glifosato em zonas urbanas, zonas de lazer e
vias de comunicação.
O glifosato é um herbicida classificado pela Organização Mundial de Saúde
como comprovadamente cancerígeno em animais e provavelmente cancerígeno em
humanos. É o herbicida mais vendido no país. O risco que a sua utilização
implica para a saúde pública é imenso.
Várias são as
organizações que alertam para os perigos deste herbicida, incluindo a Ordem dos
Médicos Portuguesa ou a Agência Internacional para a Investigação sobre o
Cancro que já identificou a relação entre a exposição ao herbicida e o Linfoma
não-Hodgkin e declarou - em março de 2015 - o glifosato como “carcinogéneo
provável para o ser humano”. Este tipo de cancro de sangue é dos cancros que
mais se regista em Portugal, país onde o último estudo efectuado revelou que o
glifosato foi detectado em 100% das análises efectuadas à urina dos
participantes, sendo estes números muito superiores aos de outros países
europeus.
Os dados são, de
facto, alarmantes, mas a Direita e o PCP decidiram votar contra esta resolução,
invocando a necessidade de haver mais estudos. Ora, em matérias de saúde
pública dever-se-á sempre seguir o princípio da precaução.
Mas porque não estão
PSD, CDS e PCP preocupados com a saúde pública? Podemos induzir que preferem
defender os interesses da Monsanto (que graças a este componente lucra,
anualmente, mais de 5 mil milhões de dólares)? Ou por qualquer outra razão?
A verdade é que, em
Portugal, para além do uso generalizado na agricultura, também várias
autarquias o aplicam em praças, jardins, passeios, estradas e cemitérios.
Analisemos, então, o
“panorama autárquico” permitindo-nos, talvez, perceber em parte a posição da
Direita e do PCP. O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda questionou todas as
autarquias acerca da eventual utilização do glifosato em espaços públicos
municipais. Pouco mais de um terço dos municípios responderam. Em relação a
estes partidos que votaram contra, e tendo em conta os municípios que dirigem,
as respostas foram as seguintes:
·
Dos 28 municípios que responderam e que são dirigidos pelo PSD, 23 afirmam
utilizar este herbicida;
·
Dos 6 municípios que responderam e que são dirigidos por uma coligação
PSD/CDS, 4 afirmam utilizar este herbicida;
·
Os 2 municípios do CDS que responderam utilizam glifosato;
·
E a totalidade dos municípios dirigidos pela CDU (coligação que integra o
PCP) que responderam – 16 municípios! – afirmaram utilizar este herbicida.
De todos estes
municípios, apenas é conhecida a posição do município de Évora, que já anunciou
publicamente ter suspendido a utilização de glifosato.
Talvez este números
ajudem a explicar a pouca vergonha que se passou, na semana passada, na
Assembleia da República.
Até para a semana!
Bruno Martins
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