Homenagem do Al Tejo a
Domingos Maria Peças
( hoje a cargo do Rufino
Casablanca)
Abraham Lincoln – um filme
Abraham Lincoln, Franklin D. Roosevelt e John F. Kennedy
são, talvez, os mais conhecidos presidentes dos Estados Unidos da América. E
muito embora discordemos desse conceito, já que achamos que apenas o primeiro cabe nessa opinião, o segundo e o
terceiro (continuamos nós a achar) foram ultrapassados por outros presidentes que marcaram mais profundamente os destinos
daquele país. A verdade é que não queremos deixar de comentar os filmes que
visionámos recentemente e que pretendem contar-nos um pouco da vida destes três
homens. São filmes que não passaram no circuito comercial em Portugal, não se
encontrando, portanto, legendados em português. São filmes oriundos duma área de
cinema independente dos Estados Unidos, realizados já há alguns anos, e
completamente fora dos processos de produção de Hollywood. De referir que no
filme que hoje nos interessa, e que diz respeito a Abraham Lincoln, todos os
actores e actrizes são amadores, assim como o resto das funções são da
responsabilidade de alunos do curso de cinema da Escola de Groton,
Massachusetts,. Apenas por interesse suplementar, este filme foi passado
durante o Festival de Cinema Amador de Montreal, no Canadá, em 1954, tendo
recebido uma Menção Honrosa.
País de Origem: Estados Unidos da América
Idioma: Inglês
Realização: Gustavo Menendez
Argumento: Gustavo Menendez e Berrit White
Música: --------
Elenco: James Conwey, Kathryn Noizet --------
Penúria de meios de realização é a primeira coisa que salta
à vista quando vemos as primeiras imagens deste filme. Durante todo o filme,
que dura cerca de noventa minutos, essa penúria é evidente. Aquela rapaziada
bateu-se com uma clara falta de dinheiro, …. e no entanto, …. no entanto, ….
achámos o filme interresante. Não que nos deslumbrasse a interpretação dos
artistas – até eram bastante toscos – não que ficassemos presos a primores da
realização – por acaso bastante básica – e a música é praticamente inexistente:
uns sons sempre agudos demais para os nosss ouvidos. Enfim, tinha todos os
condimentos para ser considerado uma lástima senão fosse o argumento. E mesmo
este não é brilhante. É uma história contada de trás para diante, sem qualquer
interrupção analítica sobre a vida de Lincoln e as contingências que fizeram do
homem o presidente americano mais famoso de sempre. A verdade verdadinha é que
o argumento espatifa a reputação de Lincoln.
É verdade que algumas das coisas o filme nos conta, já nos
tinham chegado por via doutros escritos. É verdade que já nos tinha chegado a
versão de que aquele homem não era o poço de virtudes que todos exaltavam.
O filme começa por nos mostrar a Convenção do Partido
Republicano, realizada em Chicago, em Maio de 1860, convenção em que Lincoln é
escolhido para representar o partido nas eleições de Novembro. Assim foi
escolhido este advogado, nascido no Kentucky e estabelecido no Ilinóis. Este
homem, reflectido e bem falante, verdadeiro “self-made-man”, chegou à nomeação
pelo Partido Republicano para presidente dos Estados Unidos, sem nunca ter
referido se era ou não a favor da emancipação dos negros. Isto num país que
estava à beira de uma sangrenta guerra civil, exactamente por causa da
escravatura. Aliás, como o filme também mostra, a cena política norte-americana
estava claramente fragmentada. O Partido Democrata apresentou dois candidatos:
um nortista, outro sulista. E ainda um outro partido, com grande implantação na
altura, o Partido Constitucional da União, apresentou também um candidato.
Finalmente em 6 de Novembro de 1860, Lincoln foi eleito
presidente dos Estados Unidos, por margem tangencial. Estes são os factos
históricos facilmente confirmáveis, mas a questão é que o filme a que nos
referimos não se limita a factos históricos já conhecidos.
E desde que o homem toma posse, até à sua morte, o
presidente Lincoln é apenas um saco de pancada. Chega a ser dito que teria
preferido a derrota do Norte durante a Guerra da secessão. O 16.º presidente
dos Estados Unidos da América, que entre a sua eleição em Novembro de 1860 e a
tomada de posse em Março de 1861, vê metade dos estados da União separarem-se
dos estados nortistas e iniciarem uma guerra que duraria cinco anos e faria
mais de um milhão de mortos, acaba por ser assassinado por um actor quando
assistia, exactamente, a um espectáculo teatral.
Nós, que sentimos por Lincoln uma grande admiração, sentimos
também que a sua memória foi muito maltratada neste filme. Daí que não se
recomende.
Rufino Casablanca
Monte do Meio, 12 de Maio de 1995
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