Terça, 31 Março 2015
O yo-yo tem
uma origem um pouco nebulosa, de tão antiga que é. Talvez na China, talvez na
pré-História, dizem. Mas quem acabou por registar-lhe a patente e batizá-lo na
versão que conhecemos hoje, foi um filipino que emigrou nos anos 20 para os
Estados Unidos e lá abriu uma fábrica deles, tendo chamado a atenção de um tal
Donald Duncan que lhe comprou a fábrica e o promoveu.
É um brinquedo que se vale de algumas
leis da física para funcionar: quando é lançado para baixo, a força da
gravidade puxa-o nessa direção, mas como está preso a um fio enrolado no seu
eixo, e não se pode livrar dele, desce a girar enquanto se desenrola o fio.
Nesse movimento, o yo-yo vai ganhando aceleração aos poucos
até que o fio acabe, e então a energia potencial acumulada durante a descida
faz com que o brinquedo continue a girar, bastando um toque do jogador para que
o yo-yo inicie o movimento de subida e volte à mão, recebendo
logo um novo impulso para baixo e assim por diante, até que dure a habilidade e
paciência de quem o manipula.
É um objeto cuja
atividade se pode tornar muito sugestiva para a composição e os exercícios de
estilo, nomeadamente para a metáfora. Parece que durante uma conversa o ser
humano usa em média quatro metáforas por minuto, já que muitas vezes as pessoas
não querem ou não conseguem expressar o que realmente sentem e então falam por
metáforas, onde o que se quer dizer fica subentendido. Claro que também há
outras figuras interessantes para se pôr o que não se quer dizer na boca de
outros, inventando-se heterónimos ou pseudónimos ou até personagens que, ao
longo das narrativazinhas, vão fazendo o papel ora do pudor e do bom-senso, ora
do boato e do queixume. É técnica de ficção antiga e poesia, pois, ou então de
quem põe e dispõe a máscara conforme o baile e nos dias em que mais lhe convém.
Mas adiante, sigamos às claras e de caras, para oyo-yo e para como
ele pode ajudar a metaforizar.
Cada um terá no seu
dicionário de todos os dias, e de acordo com a sua própria realidade, uma
aplicação do yo-yo mais jeitosa ao discurso. Lembro a das
dietasyo-yo, também conhecidas por dietas sanfona, em que assim como se
perde peso, assim logo se recupera, mas sobre isto não me dá jeito nenhum
pensar muito agora. Fico mais fascinada com as imagens da manipulação, da
liberdade condicionada ao fim do barbante, da energia acumulada e inquieta,
pronta a saltar ao mínimo toque, ou a de cada descida que o yo-yo faz
como se fosse uma libertação mas afinal, ah! que lá tem de subir outra vez! Não
há guita, como já não havia na vez anterior, e tanta energia a subir para ir
mais longe ainda que seja para baixo, com a força toda, e nada! Voltar para
trás, que aqui é estranhamente para cima e o que tudo isso significa, e andar
assim, acima e abaixo a distrair quem vê a “ceninha” a descer e a subir, com
mais ou menos rodriguinhos de técnica, floreados de nós, laços e percursos em
pontes e baloiços da guita que, afinal, é a mesma e não dá para a rodinha
despegar e sair em liberdade por esse mundo fora.
E há a metáfora da
paciência. Como o pescador agarrado à linha com anzol na ponta, o jogador ali
está, deitando abaixo e recolhendo, sem peixe na rede, com safra mais-que-ruim.
Enerva, pois enerva, aos menos habituados a ter estes destinos na mão, que este
é jogo para quem tem a resistência, que rima com paciência que é o que tem de
ter o jogador do yo-yo. E outros. É que quando se joga ao yo-yo tem
de se ter tranquilidade. Tem-se, por assim dizer, a faca e o queijo todo na
mão. É fazer o que se tem a fazer e não se deixar acometer pela impaciência que
parece até desistência. Traduzindo esta metáfora para o mundo da política, seja
ela local ou nacional, é quando alguns se esquecem que tendo o poder na mão,
não precisam de andar a fazer oposição à oposição.
Sem stresses, com
calma, yo-yo abaixo, yo-yo acima, e que os toques
sejam para fazer reagir o yo-yo no fim da linha e não ter de
voltar a enrolar o fio à mão, sem leis de física que ajudem a continuar. E
fico-me por aqui que já devo ter ultrapassado a média de metáforas por minuto.
Cláudia Sousa Pereira
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