Ermida de
S. Luís
Segundo
Túlio Espanca, a ermida está integrada no grupo de herdades da Gamela, mas
situada na Quinta da Mougueira, já existente no século XVII, foi fundada em ano
impreciso da mesma centúria por um dos morgados daquele título, da família dos
nobres Lobos da Silva. Em 1708 e 1763, eram seus detentores, respectivamente,
Manuel Lobo da Silva e Luís Diogo Lobo da Silva, fidalgos da casa real,
residentes em Lisboa.
Alcança-se
por caminho particular através daquela propriedade, na distância
aproximadamente de 12 Km
da sede do Concelho, depois de percorrer alguns quilómetros da E.N. n.º 2, na
direcção de Santiago do Escoural. Para chegar a S. Luís volte no caminho que
nos leva até às Caeiras em
plena Serra do Monfurado. Passa-se pela Quinta da Torre do
Carvalhal, solar quinhentista com torre manuelina e ermida gótico-mudelar do
Séc. XVI e pelas antigas caeiras (fornos onde era cozida a cal).
Foi
completamente reconstruída em 1794,
a expensas de uma comissão de festeiros dirigida pelo
juiz Pedro Vicente Pereira e pelo prior da Matriz da Vila, padre Elias, tendo
como assistente da obra mestre Francisco, pedreiro de Montemor-o-Novo.
Está
situada em ponto dominante da linha SO, apoiada em adro artificial, de
alvenaria, que se atinge por escalinata central, beneficiada ou construída de
raiz no ano de 1877, conforme se lê numa cartela aposta na parede. Este adro,
hoje meio desmoronado, na banda ocidental conserva recinto fechado com
gradeamento de ferro, datado de 1876, onde se celebraram as danças dos
convidados epeciais.
Discreto
alpendre de três arcos redondos, muito singelos, compõe a frontaria: o portal,
moldurado e de frontão entrecortado, do estilo rococó, mantém a memória da nova
feitura do templete, na verga, dividida em duas regras interrompidas, de letra
desenhada, cursiva:
NO ANO DE 1794 SENDO PR.
OR O R.P.
ILIAS E OS FESTEIROS
CAPL.º DO
GATO, PEDRO MARIZ
VICENTE PR.º
SE FES.º CAPELA
NO ANO DE 1795. SE FES
O PORTADO MESTRE FR.º
O
campanário, apilastrado, ergue-se na ilharga ocidental, com empena de enrolamento,
sino de bronze, antigo, e cruz relevada
O
corpo posterior está recortado por frontão triangular, ladeado de piunáculos
piramidais nascentes de bases cúbicas, de alvenaria alva de caio.
A
silhueta exterior do edifício é característica das construções rústicas do aro
suburbano do Distrito, sem grandeza e pouca originalidade mas cheia de
pitoresco e graciosidade.
O
interior acusa reformações posteriores aos refundamentos de 1794, embora
mantenha a linha arquitectónica desta obra integral. De uma só nave e abóbada
de penetrações, moldurada e de dois tramos, é totalmente revestida de estuques
policromos e os alçados com apainelados geometrizantes, florais, valorizados
por medalhões ovóides, d arte neoclássica, representando “S. Luís”, Rei de França,
“S. Francisco de Assis”, ” Santa Isabel de Portugal” e “S. Luís”, Bispo de
Tolosa.
Conserva
dois altares laterais, junto da boca do santuário, com figuras estabulares da
mesma modelação mural, dedicados a “N.ª S.ª da Saúde” e “Santo António”,
conservando-se neles, respectivamente, uma escultura de roca, de “N.ª S.ª do
Rosário” e “S. Francisco Xavier”, esta de boa factura seiscentista, de madeira
estofada, que mede, de alt. 90
cm . . Nos alçados, muitos ex-votos populares, oferecidos
aquela santa.
Tem
coro falso, posterior e púlpito no lado da Epístola, com base lobulada, de
pedra e balaústres recortados, de madeira.
A
capela-mor, antecida por arco-mestre redondo, apilastrado, que acusa grave
ruína, é de planta quadrada e talvez sobrevivência seiscentista, embora
revestida de composições coloridas, de oitocentos, do tipo de perspectivas e
ornatos. O retábulo, ainda dentro da tradição rococó, de estuques mais
delicados, inscreve-se em arco pleno ricamente decorado por pilastras,
festonadas, rosetões, lambrequins e apainelados coloridos e dourados. No nicho,
envidraçado, venera-se o titular, “S. Luís”, em traje guerreiro, coroado e
empumhando o cetro real, peça antiga, de madeira, mas renovada completamente
nos fins do século XIX por folha de coloração e olhos de cristal, obra que lhe
fez perder o interesse artístico.
Subsiste,
aos pés do altar, grande fragmento de tapete de Arraiolos de fins do século
XVIII.
A
sacristia, de telha-vã, além do paramenteiro da época de reforma da ermida, tem
lavabo esculpido e porticado, de inspiração barroca, com empena de enrolamento,
ornatos caprichosos e taça saliente do tipo balaústre.
A
ermida possui numerosos ex-votos, na sua maioria animais em cera, que
testemunham a romaria e culto que ainda aí se realiza em Agosto.
Dimensões
interiores: nave - comp. 9,25 x larg.
4,45; presbitério – 4,15 x 4,15
m .
Na
baixa, em terrenos fortemente arborizados, agradável de frescura e abundante de
águas, subsiste a primitiva fonte de mergulho, dos peregrinos, voltada na
direcção do templete, construída de alvenaria, em planta rectangular e
abobadilha redonda, lisa. Tem arco pleno apoiado em duas atarracadas colunas
toscanas, de granito, empena triangular e poço cilíndrico, resguardado por
tanque marmóreo. No fundo do alçado, nicho desadornado do padroeiro – “S. Luís”
(?). A curiosa edificação, que teve cobertura de linhas radiadas, oferece
aspecto da centúria de seiscentos.
Em
25 de Agosto realizava-se a Festa de S. Luís, que era nesse tempo (1878) a 1.ª
romaria de Montemor-o-Novo. A festa era um misto de sagrado e profano. Logo na
véspera e no dia da festa ocorriam as cavalhadas que tinham grande fama, e
dava-se as competentes três voltas de roda da igreja. Era raro o ano que não
havia desordens, tombadelas de carros e
festas quase estragadas, mas por fim, o fervor pelas festas fazia com que
acabasse tudo mais ou menos bem. Era costume vir policiar esta festa uma força
de 20 cavalos do Regimento de Cavalaria n.º 5, aquartelado em Évora. Invocado
como Protector do Gado, outrora a sua Festa incluía sempre a bênção dos gados,
dos lavradores e agricultores da região.
Até
à aprovação do Código Civil de 1936, que desfez 10 freguesias no nosso
concelho, S. Luís pertencia à extinta
Freguesia de São Mateus.
Pelo
facto da ermida se encontrar bastante danificada, em 1985 o saudoso Padre
Alberto Dias Barbosa mandou proceder a avultadas obras de recuperação da antiga
ermida.
Depois
de um longo período de interregno, o Cónego José Morais retomou estas
tradicionais festas, que ano após ano, atraem até S. Luís da Mougeira muitos
católicos.
Augusto Mesquita
Crónica publicada na
“Folha de Montemor” referente a Dezembro 2014. Publicada ap´s permissão do
Autor
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